O museu na lente do ARTIXX
Nenhuma obra de arte pode, atualmente, possuir a
magia e a autoridade de uma obra-prima da Idade Média e do Renascimento, mas
uma colagem irreverente que a desvia de seu sentido pode ter o valor de
revelação incomparável para nossa época.
(Rainer Rochlitz, em
‘O desencantamento da arte, a filosofia de Walter Benjamin’. EDUSC, Bauru, SP,
1992)
O processo de ‘atualização’ da obra
de arte por contínuas revisitações contextualizadoras proposto por Walter
Benjamin provoca inúmeras ações entre nós, embasando o trabalho de muitos
artistas, historiadores e críticos de arte, realizadores voluntários ou não
desse fundamento.
Apontar movimentos significativos que
contribuíram para a formação do pensamento atual é realizar uma tarefa atualizadora,
o que, no pensamento do ARTIXX,
é ação artística como tantas outras que se propõem realizar tal
intento.
É em função dessa premissa que
consideramos relevante e fundadora de perspectivas a iniciativa de ressaltar a década de 70 e seus
protagonistas, artistas realizadores influentes e, portanto, formadores de
pensamento em arte no futuro, tanto aqui no Paraná quanto no restante do país.
Esse período político e econômico é fundamental para nós, tanto que os esforços
revisitadores hão de ser, obrigatoriamente, prioridade para os que participam
ou não do universo artístico produtor de artes visuais no Estado.
Entre os princípios de formação do
Coletivo ARTIXX está a proposta de consolidar o entendimento dessa relação
atemporal em que se encontram os fundamentos de todas as ações do coletivo, a
partir do conceito de uma arte realizada entre pessoas, afirmando em seu
Manifesto Fundador que “o ARTIXX é
formado por uma comunidade de arte social que interage por meio da criação
coletiva, da ação informal entre artistas e não artistas”*.
O museu, além de instituição necessária
e eficaz de acúmulo dos saberes específicos, tem a obrigação de acompanhar esse vínculo da arte com o
tempo, não somente no cuidado com a produção material, mas também com a
imaterial, tornando-se promotor e facilitador da revisitação benjaminiana que
pretende fortalecer a produção do pensamento e a ação artística sempre religada com o passado e sedimentadora do
devir, ampliando assim as funções e estruturas de preservação da amostragem da
obra de determinados artistas para a afirmação da história da arte paranaense,
brasileira e internacional.
A dinâmica exigida para isso está
indicada por momentos de encontro entre os produtores de todos os tempos que
levam consigo o pensamento vivo, mesmo que em forma imaterial, mas tantas vezes
em presença física e lúcida, que precisam fazer parte do acervo do museu,
especialmente hoje, com a tecnologia disponível, que encantaria pessoas como
Walter Benjamin.
O espaço físico do museu já está
potencializado pelo edifício e seu corpo técnico dimensionado pelas demandas
técnicas, porém carece, bem o sabemos, de estruturas de agilização e acessibilidade que atendam as
demandas incessantes, sempre renovadas pela produção contemporânea, que tantas
vezes inclui espaços além do museológico, para responder às indagações que os
artistas estão a propor. O espaço físico se torna, muitas vezes, ineficiente, e
esse é um dado concreto na produção contemporânea.
Acreditamos que essa é a nossa função
neste momento e precisamos potencializar essa porta que o MON abre, esperando
que o futuro consolide este e outros momentos de criação coletiva do pensamento
do museu no Paraná. Por isso consideramos fundamental a estruturação das
revisitações históricas atualizadoras como ação concreta e expandida do Museu
Oscar Niemeyer.
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